terça-feira, 29 de abril de 2014

11 DE MARÇO DE 1975. O COPCON, MDLP/ELP, MÁRIO CASTRIM “VERMELHO” E OUTROS…

 
11 DE MARÇO DE 1975.
O COPCON, MDLP/ELP, MÁRIO CASTRIM “VERMELHO” E OUTROS…

Fleming de Oliveira



A 11 de março de 1975, verificou-se uma tentativa de golpe, que teve como consequência o triunfo do setor mais esquerdista e radical do MFA “os homens sem sono” (como se reclamavam poeticamente), e à aceleração do processo revolucionário.
Ainda no rescaldo do acontecimento, numa Assembleia do MFA, que ficou conhecida por Assembleia Selvagem, foi instituído o Conselho da Revolução, que passou a substituir a Junta de Salvação Nacional e o Conselho de Estado e tomadas decisões em série, como detenções de militares e civis suspeitos, criação de um tribunal revolucionário, remodelação ministerial, nacionalização da banca e seguros bem como o avanço da reforma agrária. Alguns, Cap. Henrique Maurício e Maj. Diniz de Almeida, defenderam até que fossem fuzilados, encostados à parede, os responsáveis pelo golpe. Mas a Assembleia ignorou a proposta.

Nesse dia, o alcobacense PC Rogério Raimundo “estava noutra luta. Enquanto os professores Joaquim Oliveira e o António Emílio (e outros) foram para as barricadas nas entradas da Vila de Alcobaça, eu estava a tentar mobilizar professores e alunos para respeitarem quem trabalha (os não-docentes) e acabar com os escritos nas carteiras”. Utilizando o policopiador a álcool, fez os A5 para cada sala, cada professor, cada delegado de turma, bem como a estimulante canção de José Afonso, “o que faz falta é avisar/animar a malta”.

A 13 de março, eram já várias dezenas as prisões a mando do COPCON, desde logo os comandantes da força que atacou o RAL 1, civis alentejanos e lisboetas, muitos deles ligados ao Estado Novo. Entre os detidos encontram-se nomes tão conhecidos como Espírito Santo, Mello, Champalimaud, Núncio e Ribeiro da Cunha.
Na tarde do ataque ao RAL1, foi abatido um civil, que terá disparado um ou dos tiros, do carro onde fugia, ameaçado e perseguido pela multidão enfurecida. As nacionalizações foram muito saudadas à esquerda e não contrariadas pela direita, como o PPD. Mário Soares, estava tão eufórico que reputou de dia histórico, “aquele em que o capitalismo se afundou”. Note-se que Soares veio a considerar que a “nacionalização da banca (…), e ao mesmo tempo a fuga e prisão dos chefes das nove grandes famílias que dominavam Portugal, indicam de uma maneira muito clara que se está a caminho de criar uma sociedade nova em Portugal”.
O COPCON-Comando Operacional do Continente, foi uma estrutura de comando militar para Portugal continental, enquadrado no Estado-Maior General das Forças Armadas, criada pelo MFA no período que se seguiu à Revolução e extinto após o 25 de novembro de 1975. Na prática coincidiu também com o comando da Região Militar de Lisboa tendo sido criado em 8 de julho de 1974, pelo Dec-lei 310/74, com o objetivo de fazer cumprir as condições criadas pela Revolução. Era constituído por forças especiais militares como fuzileiros, paraquedistas, comandos, polícia militar, Infantaria de Queluz e Regimento de Artilharia de Lisboa-RAL 1/RALIS. O seu comandante era o Maj. Otelo Saraiva de Carvalho.

Mário Castrim, o Mário “Vermelho”, crítico de TV, mas que escrevia sobre política com truculência e acidez no Diário de Lisboa, defendeu na sequência da nacionalização da banca e seguros, que “”os trabalhadores manuais e intelectuais, os estudantes, homens e mulheres, qualquer que seja a sua atividade, tem de ser nacionalizados, pois de outro modo, nada se poderá fazer no sentido de se consolidarem as conquistas”.
Numa crónica de TV, escreveu que “maturidade política há em Cuba, no Vietname ou Bulgária, etc. No nosso País, hoje, o que está maduro, é o amor do Povo ao MFA. Esta é a nossa maturidade real”.
Há pessoas que encontram na crítica algo que os faz sentir bem e dá sensação de poder. Tal como o valentão que só molesta uma vítima indefesa, quanto mais reação o crítico recebe do alvo dos seus ataques, mais insiste. E tal como o “valentão”, certos críticos são muitas vezes moralmente cobardes e têm de uma opinião inflacionada.

Tanto o MDLP-Movimento Democrático de Libertação de Portugal, constituído em 5 de maio de 1975, liderado por Spínola a partir do Brasil que não quis que se chamasse Frente de Salvação Nacional, como o Maria da Fonte, são posteriores ao ELP-Exército de Libertação Português O MDLP posicionava-se numa direita dura, era comandado pelo subdiretor da PIDE/DGS Barbieri Cardoso e treinava-se em quintas espanholas com a tolerância do regime de Franco, como assegura Joaquim Guilherme Ramos, de Alcanena, com conhecimento de causa.
Os panfletos do ELP incitavam o português a ser um “combatente contra os assassinos comunistas”, ensinando a fazer cocktails molotov.
Esta organização foi denunciada pelo Brig. Eurico Corvacho, Comandante da Região Militar Norte, a 23 de março de 1975, numa conferência de imprensa difundida em direto pela RTP. “Graças à vigilância popular, foi possível detetar a existência e os propósitos de tão nefasta organização e prender já alguns dos seus agentes”.
Por sua vez e em contrapartida, “o Exército de Libertação Português (ELP) agradece a todos aqueles que, no CDS, PPD, PDC, igrejas, paróquias, bancos, etc., ou em iniciativas de caráter privado, têm apoiado a nossa justa luta, criando um clima propício para a nossa entrada em ação com o fim de limpar o País de todos os cães comunistas e traidores, que nos tentam impedir de sermos o que sempre fomos e de dispormos de nós como muito bem entendemos”.
Este panfleto de agosto de 1975, não esquecia ainda um obrigado a Soares, “por nos teres facilitado as coisas desta maneira. E acrescentava que és um tipo porreiro! Fica prometido que terás bandeira a meia-haste quando morreres... com um tiro na nuca!”
O MDLP difundiu panfletos a pugnar pela “organização das freguesias em autodefesa”, coordenadas pelas Batarias Anti-Totalitárias-BAT. “Quando ouvires os sinos da tua freguesia tocar a rebate, vem para a rua com as armas que tiveres: caçadeiras, pistolas, picaretas, enxadas ou gadanhas e que é urgente prepararmo-nos para desencadearmos por todo o Portugal uma cruzada branca contra a opressão vermelha, contra o comunismo estrangeiro, usurpador, opressor e ateu”.

O Comdt. Alpoim Calvão, assumiu as bombas do MDLP até 25 de novembro. Antes disso, podem dizer que fui eu que as mandou pôr, a todas, que eu não desminto. Depois disso, nem uma, garantiu, a 13 de fevereiro de 1994, ao jornal O Público.
A maior curiosidade do “Maria da Fonte”, criado por Paradela de Abreu, o editor de “Portugal e o Futuro”, de Spínola, foi o facto de ter chegado à conclusão, que só havia uma estrutura capaz de fazer frente aos comunistas, a Igreja Católica. E terá sido ele a contactar o Arcebispo de Braga, que indicou o Cónego Melo, como mediador.
“Cada diocese tem muitas paróquias, logo muitas igrejas, logo muitos sinos. Milhares de sinos ao norte do rio Douro. Centenas de milhares de católicos. Ao pensar nesta estrutura em termos de eventual guerra interna, constatei que o País já estava quadriculado militarmente. Cada paróquia seria uma base. Cada igreja de granito ancestral, um reduto. Cada sino um rádio transmissor. Cada quinta perdida nas serras, um apoio logístico”.
Durante algum tempo, os atentados e sabotagens contra revolucionários, foram atribuídos a uma única rede. E, no entanto, havia divergências profundas entre elas. Alpoim Calvão esclareceu que “o ELP propunha-se a finalidades e formas de atuação com que não concordávamos. Só nos unia o anticomunismo, fator importante, mas não suficiente”. Esta é também a opinião de Joaquim G. Ramos.
A primeira ação do ELP foi o assalto à sede do MDP/CDE em Bragança, em 27 de maio de 1975 onde, na entrada e paredes interiores, foram escritas ameaças de morte e promessas de regresso.
Em 1 de junho, fez a sua aparição em Lisboa, com o deflagrar de uma bomba em Campo de Ourique, seguida pouco depois de um cocktail molotov, na casa de banho da Galeria de Arte Moderna, a funcionar no Mercado do Povo.
Em Bragança, ainda por estes dias, viria a ser preso por militares um homem que afirmava, publicamente, pertencer ao ELP e uma manifestação terminou com confrontos de rua, durante os quais foram sovados vários elementos do MDP/CDE.
Em 25 de julho, cerca de 20 indivíduos destruíram a sede do PC, em Esmoriz, deixando nas paredes a assinatura do ELP.
Um grupo armado do ELP, em meados de agosto, libertou do Hospital da Marinha, Nuno Barbieri, filho do subdiretor da PIDE e que havia sido preso, alegadamente, por envolvimento no golpe de 11 de março.
Uma bomba do ELP, a 22 de setembro explodiu, sem consequências de maior, na Messe de Oficiais da Armada, em Cascais, onde pernoitava Pinheiro de Azevedo.
A 25 de outubro, foram destruídos à bomba os carros do Comdt. Ramiro Correia, da 5ª. Divisão, e de Fernando Luso Soares, Advogado comunista.
A 4 de novembro, num assalto à sede do Centro da Reforma Agrária, de Santarém, morreram duas pessoas e ficaram feridas mais umas vinte.
Nessa mesma noite, a sede nacional do PS, então na Rua da Emenda-Lisboa, foi atacada com um petardo, sem que daí tenha sofrido danos, para além do susto, enquanto que em Ponta Delgada foi arremessada uma bomba, de fraca potência, contra o Comando Naval, causando o estilhaço de vários vidros.
O Comdt. Alpoim Calvão, por essa altura encontrava-se em Madrid, tal como o exilado Joaquim Guilherme Ramos. Aí assegurou a O Jornal, que “não vai haver nenhuma invasão, pelo menos em moldes clássicos. Nós já invadimos Portugal, já lá estamos”.
Alpoim Calvão, afirmava dispor da colaboração de credenciados oficiais, tal como ele fugidos desde 11 de março, entre os quais alguns que foram com Spínola para o Brasil.
Na opinião de O Jornal, o “MDLP é uma força política de peso neste País, e conta com o apoio, não só de toda a inteligentsia exilada, como também de várias potências ocidentais, entre a quais a França de Valery Giscard d´Estaing”.



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